Eu Escolhi Desabafar


Isso não é pessoal. Não sou contra nenhum movimento que oriente os jovens sobre a sua sexualidade.

Pelo contrário, talvez a tentativa aqui seja fazer uma reflexão sobre o que está oculto nos movimentos e filosofias sexuais cristãs de controle de jovens que nós e nossas lideranças adoramos passar para frente sem pensar. Eu reforço: Não sou contra nenhum movimento que ensine os jovens a lidar com a sua sexualidade, só quero uma conversa franca.

Estive certa vez em um desses seminários famosos para saber o que é dito aos nossos jovens. Para ser bem sincero, saí de lá pasmado com o que ouvi. Realmente levei um grande susto.
Com a proposta de “mudança de cultura”, muitos movimentos têm surgido dentro da igreja brasileira, principalmente entre a juventude, para isolá-los dos perigos das tentações sexuais. Até aí, perfeito! No entanto, percebi que, em muitos desses movimentos, o compromisso dos seus idealizadores é de tentar transformar os jovens da igreja em um bando de ativistas morais em prol de uma causa superficial.

Diante da falta (ou da incapacidade) das igrejas de tratar o assunto em suas reuniões juvenis, a proposta é boa: Uma educação sexual digna e clara.
Confesso que vejo uma nuvem boa vindo em direção à igreja, no sentido de que ela parece estar com mais vontade de discorrer a respeito da sexualidade ou, talvez, já não cabe mais a nós esconder ou ignorar esse assunto.

Sobre o evento:

Durante a apresentação, era pregado e enfatizado o tempo todo que é possível se tornar uma “pessoa melhor” e até conquistar a santificação — que era a aproximação de Deus por meio de uma conduta moral invejável. A grosso modo, a ideia era a de que errar menos é o segredo para ingressar nos céus e ter sucesso no relacionamento. Na boca do palestrante, o tom da palavra “resistir” era quase um sinônimo de trilhar os caminhos do merecimento para conquistar algo de Deus. A virgindade é uma barganha com Deus.

Além disso, enxergo um problema central encontrado nos diversos argumentos que foram apresentados. Não estou implicando com a intencionalidade da causa, pois parece legítima e de boa índole. O problema encontra-se em algumas afirmações perigosas que estavam implícitas na mensagem toda. Coisas do tipo:

“Quem é abstinente do sexo tem a vida conjugal melhor futuramente.”
“Quem não faz sexo antes do casamento é mais santo perante Deus.”
“Deus recompensa o esforço daquele que opta fazer o propósito proposto pelas correntes”.


Isso não é verdade. E considerando o público, que era adolescentes e jovens, fica mais complicado ainda a situação.

A verdadeira luta

Não temos como entrar na discussão se antes não entendermos que o foco do cristão não é a luta moral contra o pecado, pois muita gente acaba se frustrando por não conseguir travar essa luta sem fim contra si próprio.

Nossa luta, de fato, é contra algo maior e que leva a consequências bem mais graves ainda, o nosso rompimento com Deus. Não dá para lutar contra o pecado armado com nossas próprias forças.

Converso com muito jovens que têm muitos distúrbios sexuais e que não conseguem fugir deles porque realmente se cobram muito. Muita dessa frustração e sensação de culpa é causada por essas neuroses. Tentar simplesmente fugir do problema de forma superficial, sem antes pensar sobre ele, é mais confortável, mas é completamente doentio.

O perigo do falso argumento

A problemática dos falsos discursos do idealizador concentra-se na questão que vivemos um engano já descrito na Bíblia: “Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.” (Gálatas 6.12)

Embora Deus tenha nos dado a lei, ela é exclusivamente para que entendamos que nossa percepção de justiça humana própria é completamente falida. Creio que quando Deus nos dá a lei, é como se Ele dissesse: “Vocês pouco sabem sobre a justiça. A minha justiça é declarada por meio dessa lei, pois a sua percepção de justiça é desregulada. Não há um justo sobre a terra, pois mesmo eu dando a minha lei, vocês não conseguem cumprir, pois sua tendência a fazê-la mais importante que eu tem me apagado da centralidade da tua cristandade.”

Outro ponto interessante a ser pensado é que temos que saber que a distância entre nós e Deus não é moral, mas é uma distância de natureza. Ele é completamente santo e nós vivemos em rebeldia em relação a isso. Mesmo que tentemos atingir esse nível por condutas, será um grande fracasso.

Por que questionar?

O questionamento que faço não é uma questão de certo e errado, da vontade de Deus ou da nossa vontade, mas é o mesmo que está descrito em Colossenses: “Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que é que vocês, então, como se ainda pertencessem a ele, se submetem a regras: “Não manuseie!” “Não prove!” “Não toque!”? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne.” Colossenses 2:20-23.

Entendo que ser cristão não tem a ver com cercar-se de todos os mecanismos possíveis para anular a nossa tendência a aceitar a tentação de fazer as coisas imorais. Entendo também que essa moralidade cristã só nos dá pistas de que não somos capazes de preencher o “checklist” das coisas que não podemos resistir. Para termos a vida eterna, precisamos mesmo é da consumação da nossa fraqueza, a constatação das nossas limitações e entregar-nos a Deus de forma espontânea. O caminho da entrega é o de perder o controle das nossas vontades.

Deus não faz essa comparação entre a pureza e as pessoas virgens, pois não reconhece na humanidade alguém puro e santo o suficiente que assim o possa dizer, além do Seu Filho.
Quando eu assisto a milhares de pessoas se entregando a essa doutrinação, lembro-me de que todo esse movimento em prol de plantar “pessoas boas” é uma ofensa à Cruz e à graça de Deus. Não tem sentido.

A credulidade em nossas próprias crenças faz com que o credo em Deus seja incredulidade nossa. Quando assumimos para nós essa condição moral como virtude divina, desprezamos o agir de Deus em nós para substituir por medalhas e reconhecimentos. No reino de Deus, dedicação não é sinal de passaporte para o céu, mas sim consciência.

Fomos alcançados e somos livres

A simples frase “A graça de Jesus chegou e, hoje, o pecado não determina mais quem somos, mesmo sendo inúteis!”, é um escândalo para o humanismo que prega a performance “irreprovável” e impecável como a única acessibilidade à cruz.

Não queira ser como o fariseu que se achava melhor que o publicano simplesmente porque tinha um bom currículo religioso. Não queira experimentar a mentira acerca de quem é. Saiba reconhecer: “Não há condição nenhuma em nós, mas Cristo pode nos auxiliar a viver de maneira cristã.”
  • Fuja dos gurus
         Eles querem apenas nos dizer o que fazer para ter recompensas.
  • Fuja dos modelos humanos de comportamento
         Eles estão presos às performances impecáveis.
  • Não queira correr a corrida contra o pecado moral
       Ela nos cansa, deixa-nos fadigado, traz-nos peso e sempre acaba em lugar nenhum, na frustração de ter parado no caminho por não ter fôlego suficiente para prosseguir ou no orgulho de terminar o longo percurso severo.

Deus nos chama é para direcionar nossos passos lentos atrás dos seus. Então, como um cristão pode expressar o reino de Deus em seu relacionamento? A Bíblia, com sua serenidade e sabedoria, dá-nos a resposta a respeito da nossa conduta: “Levando sempre e por todo lugar o morrer do Senhor Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossos corpos.”(2 Coríntios 4.10)

Aqui, nesta terra, o meu testemunho serve apenas para afirmar minha dependência acerca da loucura de quem sou. Assim, que o falar seja mais a respeito de Deus e menos de nós, e que possamos recusar a proposta do humanismo, que é tentar nos tornar quem jamais seremos. Há um impostor que mora em nós e que gosta de ser enganado, encabrestado e doutrinado para promover uma sensação de santidade falsa. Desculpe-me, mas não há parte de Deus em nenhuma corrida moral.

É hora de pensarmos melhor sobre quem tem nos influenciado. É hora de parar e pensar no que o Senhor quer para os nossos jovens. Precisamos de gente que nos ensine a viver com Cristo, e não pessoas que nos ensinem regras e filosofias para camuflar a nossa real condição.

Que o Senhor nos ajude!

Texto escrito por Murillo Leal
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